MONTEZUMA, CANTINFLAS, SARITA Y YO
Cheguei cá na ciudad de México antontem. Eu jamais iniciaria um romance, conto ou mesmo carta com essa frase tumular: "Cheguei cá na ciudad de México antontem." Mas, prum blog, dá pro gasto. Não há grandes fatos a relatar. O mais impactante foi a perda do meu cartão de crédito e saque no mesmo dia em que cheguei aqui. Na verdade esqueci o danado do plastiquinho no cajero automático em que fiz meu primeiro saque de pesos mexicanos. Eu estava com o fuso horário meio sobre o confuso, acho. E também algo eufórico por me ver na terra de Montezuma, Cantinflas e Sarita Montiel. (Na verdade, Sarita é espanhola, mas fez uma porrada de filmes no México. Lembro do clássico La Violetera, em que ela aparece, como sempre, com aqueles petchones de mama mía que embalaram minhas solitárias horas adolescentes. Esse filme, aliás, também é espanhol, pero todo bién. Onde andará la Montiel? Deve ter a mesma idade que Montezuma, acho, e um pouco menos que Cortés.)
Ontem fui ao famoso Museo Nacional de Antropología. Fica a somente 10 minutos a pé aqui do meu flat. Bacana. Tem milhares de ídolos de terracota agachados com capacetes em forma de panetone amassado e aquela expressão de quem acabou de peidar no elevador lotado. E tudo que você quiser saber sobre mexicas, huastecas, mayas, zacatecas, zapotecas, tzincoacas, tuzpanecas, tlapanecas e cia ltda.
Na verdade não há só ídolos de terracota. Há também centenas de caveiras e cuchillos rituales de obsidiana com os quais os donos das caveiras foram sacrificados nos altares dos ídolos por sacerdotes sangüinários. Depois de uma hora andando por ali, cansei-me profundamente. Só pensava em comer e beber. Acho que fiz bem em nunca sequer cogitar de seguir a nobre carreira antropológica. Achei que tinha tirado um monte de fotos lá dentro do museu, mas chegando no flat vi que tinha botado a câmera no modo filme e, bom, acabei tendo que apagar tudo. Já estou vendo se aproximar o dia em que não conseguirei mais acender a luz dos aposentos nem chamar o elevador ou abrir torneiras e dar a descarga, tão complicado vai se poniendo el mondo tecnolórrico, caray. Mas voltarei lá no museu qualquer hora pra fotografar tudo de novo.
Hoje vou me encontrar às 5 horas com o Romeo, um jovem tradutor e literato mexicano amigo do Antônio Prata. Aliás, ele, o Romeo, é que gentilmente se dispôs a me encontrar aqui no flat. (Pena que não é a Julieta...) Vai ser meu primeiro contato com não-serviçais aqui na terra dos mexicas. Vamos ver se ele me ajuda a me virar melhor na cidade, pois até agora só andei a pé e não saí de Polanco, bairro que é a cara da zona sul do Rio, com um monte de butiques metidas, carrões importados nas ruas, bistrôs e cafés afrancesados, esse tipo de coisa chic que logo provoca um certo enjôo na alma de um autêntico MPB (mané popular brasileiro) como eu.
Estou, em compensação, trabajando mucho - no meu velho romanzón começado a 10 anos (sic) e também - e principalmente - no novo, pros Amores Expressos. A história já está quase toda formatada na minha cabeça, e tem a ver com os nomes das ruas aqui de Polanco: Shiller (que sempre soa como Shirley na caixa acústica de mi catchola), Horácio, Hegel, Petrarca (a minha rua), Lamartine (grafa às vez nas placas como La Martine), Taine, Edgard Allan Poe, Tennyson, Moliére, Alexandre Dumas, Homero, Pitágoras e toda a literatura e a filosofia canônicas del occidente high-brow. É inacreditável. Pode coisa mais metida? Mas vai dar bom pano pras minhas manguinhas literárias.
Pra você ter uma idéia - e para já deixá-la patenteada perante el mondo todo -, minha história vai ter um detetive bronco e brasuca que está atrás de um sujeito, também brasileiro, que precisa ser eliminado, por razões que não vou contar agora e que estão no cerne do meu plot novelesco. O perseguido é um tipo culto e enlouquecido que vai deixando pistas literárias na internet, cruzando citações disparatadas, como de Virgílio e Poe, por exemplo. O detetive não entende tchongas, mas conhecerá una chica mui guapa y culta que decifrará as citações e sua origem: as ruas aqui de Polanco, onde está homiziado o tipo perseguido. De quebra, vai rolar um love apimentado entre os dois para fazer juz aos expressos amores deste belo projeto do Rodrigo Teixeira que deixou os escritores pátrios, de Bauru a Xique-Xique, se pelando de inveja.
Se eu mudar de idéia, aviso. Agora vou comer uns tacos se me dão licença.
Hasta la vista, como diria Don Schwarznegger.
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