amores expresos

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

POLANQUITUDES

Don Balthazár Noriega, el peluquero nacionalista, ataca de nuevo. Primeiro para me dizer que "Balthazar" não tem acento na última sílaba. Ora, Don Peluquero, usted mismo assinou com acento no primeiro e-mail que me mandaste, no te acuedas, cabrón? Ou soy yo que estoy a viajar en la maionese? Preguiça de checar isso.

Em todo caso, vou tirar o acento, Balthazar. Tá bom assim? Gostaria também de tirar da sua mão aquela adaga de obsidiana (um cristal de origem vulcânica que pode ser lapidado e se tornar extremamente cortante) que, te lo juro, me deu calafrios. Paz y amor en la Terra de los mexicas, bitchô.

Esse Balthazar, meu novo não-amigo mexicano, me lembra que mega-atrocidades na história da humanidade não foram privilégio dos antigos mexicas (ou astecas, como não se fala mais hoje). "¿Y Hitler? ¿Y Stalin? ¿Y George W. Bush? ¿Y Saddam Hussein?", esbraveja o zeloso peluquero.
E aproveita para me lembrar que o episódio que eu relatei aqui, de uma grande matança que durou quatro dias para comemorar a inauguração de um novo templo em Tenochtitlán - a poucas quadras do meu flat -, ocorrida em 1487, quando Hernán Cortés tinha apenas 2 aninhos de idade, "nos es nada, nada, nada, se la comparas a los docientos mil muertos em un solo día en Hiroxima. Siendo que en el Iraque la guerra provocada por los gringos hace más de 3 mil victimas todos los meses. Un masacre! Los mexicas solamente sacrificaran a 80 mil personas en aquel episodio que tu insidiosamente citas. Y todo dientro de los mas dignos rituales religiosos. ¿Quién es más salvage, digame, señor brasileño de mierda? ¿Los mexicas o los gringos?"

Balthazar, carácoles de miércoles, tienes toda razón. Além do quê, 80 mil sacrifícos humanos em 4 dias não é nada, né mesmo? Sobretudo considerando que a carne dos trucidados foi devidamente churrasqueada e consumida después.

Ah, e antes de mais nada, "brasileño de mierda" es la pu... Bueno, deixa pra lá. Vá cazar sapo en Xochimilco y vee si me dejas en paz, hombre!

Falei longamente ao teléfono, outro dia, com o Camilo Albornoz, um brasuca que vive há mais de vinte anos na Cidade do México, em Xochimilco, justamente, o reduto do Balthazar. É um bairro popular meio periférico, ao sul da capital, com canais navegáveis que lembram remotamente Veneza. Ainda não fui lá, mas já vi fotos.

Camilo faz um trabalho social, de teatro, com crianças pobres da perifa. Bem pobres, parece. E garante que Polanco, meu bairro, que começa a se tornar realmente familiar para mim, "não é o México." Tudo bem, pensei. Também não sou mexicano. Estamos quites, yo y Polanco.

Aliás, saí na quinta ou sexta passada pelas ruas de Polanco e percebi porque apelidam o bairro de "Polanski". É que há uma forte comunidade judia aqui, do mesmo jeito que o Bom Retiro e Higienópolis, em Sampa City, já abrigaram a colônia judaica num passado não muito distante.
Já morei em Higienópolis, e agora moro no Jardim Paulista, outro point com forte concentração judia de SP, de modo que não é nenhuma novidade para mim ver homens de quipá e religiosos israelitas de todos os matizes, com seus ternos negros, chapéus altos e madeixas encaracoladas escorrendo de cada lado do rosto.

Mas, ontem, subindo a avenida Horácio, aqui em Polanco, tive a sensação de ter entrado no bairro mais ortodoxo de Jerusalém, dando razão a Camilo, para quem eu não cheguei ainda no México. A mais alta ortodoxia hebraica flanava pelas ruas a pé, calmamente, saindo de alguma sinagoga das redondezas. Centenas de homens chapeludos com ternos pretos, de corte antiquado, mulheres de peruca, adolescentes, crianças, todos se desejando Shanatovah!, Shanatovah!, Shanatovah!

Logo me caiu a ficha: estávamos em pleno Rosh Hashaná, ou "Cabeça do ano", o ano novo judaico: 5768, como li em algum lugar, se não estou enganado. Me ocorreu que os mexicas (se diz mechícas), se mexicas ainda fossem, também estariam comemorando algum ano desse calibre. Já os cristãos se contentam com esses dois mil e tantos aninhos de existência.

Cinco mil, dois mil, dez mil anos, o fato é que o mundo vai ficando irremediavelmente velho. Numa esquina da Horácio com Galileo, um marreteiro vendia os indefectíveis cd's e dvd's piratas, como em Sampa e todo lugar do planeta. De repente, o cara lascou a todo vapor nada menos que "Born to be wild," com o velho e sempre pulsátil Lobo da Estepe. Caminhando a passos largos para os meus singelos sessentaninhos, tive um profundo suspiro de nostalgia, e adaptei imediatamente a letra do rockão às minhas atuais circunstâncias: Born to be old.

Holy shit.

(Juro que não volto a falar em tempo e idade, ok? Pero, holy, holy, holy shit...)

3 Comentários:

Blogger Jorge Ferreira disse...

ola reinaldo...soube, atraves do bortolotto (cara que respeito muito)...que vc tava mantendo um blog evim conferir.
Cara...conheco teus livros...e os releio de tempos em tempos...me divertem, me encantam todas as vezes...deixo aqui um grande abraco e muito respeito.

18 de setembro de 2007 às 22:52  
Blogger Unknown disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

19 de setembro de 2007 às 10:00  
Blogger Unknown disse...

cara, quanto mais leio seu blog, mas me dá vontade de reler seus livros. vamos torcer para que o romance seja muito mais inspirado do que o blog.

19 de setembro de 2007 às 10:03  

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